Ramo Nash
Em 1988, um artista sob o pseudônimo Ramo Nash publicou sua própria versão de Tintim e a Alfa-Arte. Esta foi a primeira vez que alguém decidiu "completar" o álbum, e isso poucas semanas após a publicação dos esboços originais pela Casterman. O álbum foi colocado à venda e, em algumas semanas, a versão básica se tornou um objeto raro de se encontrar. Uma edição de "luxo", numerada de 1 a 150, foi reservada para alguns privilegiados. Apesar de trazer papel de alta qualidade e capa em cores vivas, o conteúdo do livro não agradou. Além de gráficos mal feitos, a história decepcionou no quesito originalidade.
Yves Rodier
Em 1991, o desenhista Yves Rodier concluiu sua própria versão do álbum, depois de cinco anos de trabalho. Ele começou ainda jovem, aos 19 anos, mas procurou ser o mais fiel possível ao estilo de Hergé. Na imagem abaixo você confere a arte da primeira capa (e contra-capa) oficial, presentes em 9 exemplares do álbum, de 1992 - o artista substituiu o lema "Hommage" (Homenagem) por "Héritage" (Herança). Diversas edições do pastiche de Rodier foram publicadas, em preto e branco. O trabalho daquele jovem canadense agradou tanto que ele foi aprovado pelos amigos e colaboradores de Hergé, Edgard P. Jacobs e Bob de Moor. Pouco antes de sua morte, De Moor ainda tentou fazer desta versão parte do cânon oficial de Tintim, e publicar o álbum como "Homenagem a Hergé". Seu desejo era ajustar o pastiche de Rodier, contando com a ajuda de Greg no aprimporamento do roteiro. Mas a ideia não foi aprovada pelos detentores dos direitos autorais de Hergé.

Há alguns anos, a versão de Yves Rodier foi colorida e traduzida para diversos idiomas, como inglês, francês e espanhol. Este é o mesmo álbum que o blog publica semanalmente, trazendo pela primeira vez para o Brasil uma versão recolorida e traduzida para a nossa língua. A nossa adaptação do álbum é feita com base nas versões em inglês e francês, disponíveis na internet. Apesar de ser uma das melhores versões da Alfa-Arte, pra não dizer a melhor, nunca vamos ter certeza se é assim que Hergé queria que a história fosse, ou se ao menos ele aprovaria a adaptação.
ENSBA
Esta terceira versão é, certamente, a mais rara. Produzida entre 1988 e 1989 por estudantes de Belas Artes de Paris, é a mais avançada graficamente, e só está disponível em CD-ROM. As páginas foram feitas em pranchas de 30 x 25 e digitalizados a 360 dpi em escala de cinza. Os artistas envolvidos nesta versão decidiram não tentar terminar a história, mas finalizá-la no mesmo ponto onde Hergé parou, na cena em que Tintim é levado para a morte. Esta versão toma o cuidado de explicar que foi produzida por simples prazer, e não com o objetivo de ser mais uma publicação clandestina.
Uma nova edição oficial
Uma das novidades da edição de 2004 foi a inclusão de nove páginas, apresentando ideias alternativas para a história. As mais significativas são as seguintes:
.: Uma mudança de estilo de vida para o Capitão Haddock. Apaixonado pela obra de Ramo Nash, ele muda seu estilo de vestir, transforma sua casa, planta maconha e estoca haxixe nos porões de Moulinsart. Tintim e Haddock são presos, sob acusação de tráfico de drogas, e uma investigação é iniciada em Amsterdã.
.: Pintura e narcóticos: Uma grande festa é realizada na embaixada de Sondenésia, com a presença de embaixadores de diversos países, incluindo San Teodoro, Bordúria e Syldavia. O Dr. Krollspell (veja Voo 714 para Sidney) faz uma aparição, como diretor de uma fábrica de açúcar mascavo. .: O Capitão Haddock sofre de neurastenia, pois já não pode beber uísque. Nesse meio tempo, ele se apaixona pela obra de Ramo Nash. O Prof. Girassol inventa um produto que supostamente permitirá que Haddock volte a beber. Mas quando o remédio é testado, faz o Capitão perder todo o seu cabelo e ganhar manchas no rosto.
.: A possível verdadeira identidade de Endaddine Akass é revelada: Rastapopoulos. Não é algo confirmado, mas especula-se que Hergé realmente queria usar esta ideia.
.: Outra revelação presente nas páginas descobertas é que Endaddine está envolvido com o Emir Ben Kalish Ezab, o que também não fica muito claro.
.: Uma das páginas alternativas traz a imagem de Rastapopoulos - que apareceria entre as páginas 39 e 40. .: Haddock é convidado para uma exposição de Ramo Nash. Uma série de velhos conhecidos participa, como Dawson (O Lótus Azul), os irmãos Pardal (O Segredo do Licorne) e Carreidas (Voo 714 para Sidney).
.: Uma das páginas mostra uma anotação de Hergé, na verdade uma dúvida, que poderia levar a história um feliz desfecho: 'Tintim só será salvo graças a... Milu? Haddock? Ao professor? A...?' - infelizmente ficamos sem a resposta...
Outras versões
Além das versões listadas acima, existem várias outras, algumas produzidas por fãs, outras por aproveitadores. Algumas delas chegaram a ser publicadas, e entre as mais populares podemos citar os pastiches de Hémo (um dos mais procurados - e caros - em feiras de quadrinhos europeias) e Régric (pseudônimo de Fréderic Legrain), de 1995. Assim como aconteceu com Yves Rodier, o trabalho de Régric agradou aos antigos colaboradores de Hergé, como Bob de Moor.
Veja abaixo algumas versões de Tintim e a Alfa-Arte através de uma vinheta presente na página 3 do álbum e compare com original de Hergé. Apesar de o estilo do criador ser mantido, é visível a diferença no traço de cada artista.
Até um rascunho do mestre supera as cópias finalizadas...
O artista anônimo decepcionou bastante em sua versão "improvisada" da Alfa-Arte.
Esta é a nossa versão, sobre o desenho de Rodier. Publicada aqui semanalmente.
E tem mais...
Na próxima parte do nosso especial, você confere uma entrevista exclusiva que o desenhista Yves Rodier concedeu ao blog. Fique ligado, pois a terceira parte vem mais cedo: é nesta quarta, no único blog brasileiro dedicado à obra de Hergé!