Tintim chega aos cinemas de todo o mundo mais de 80 anos depois de sua primeira publicação. Mas a ideia de transferir as aventuras criadas por Hergé para o cinema começou antes mesmo que o repórter completasse 20 anos, no final dos anos 1940.

O contrato assegurava que Hergé manteria o controle artístico sobre a história e seus personagens, e uma adaptação fiel ao original começou a ser produzida. Bouchery contratou os Studios Claude Misonne, do casal João Batista Michiels e Claude Misonne, conhecidos por seu trabalho em stop-motion, especialmente para publicidade.
O começo do projeto foi marcado por problemas financeiros: Missone e Michiels não foram pagos por Bouchery, e Hergé perdeu a fé no produtor, o que causou a interrupção da produção. Mesmo assim, o filme foi finalmente concluído e, em 11 de janeiro de 1947, a primeira adaptação de Tintim para as telas foi apresentada no cinema ABC de Bruxelas, para um grupo de convidados especiais. A segunda e última exibição aconteceu em 21 de dezembro do mesmo ano. O motivo: Wilfried Bouchery havia acabado de declarar falência por causa de fraudes e, como não pode pagar suas dívidas, teve de fugir para a Argentina, levando a Justiça a apreender as bobinas do filme.
João Batista Michiels durante as filmagens
Durante anos, a cópia original (em francês) do filme de Claude Misonne e João Batista Michiels foi dada como perdida, restando apenas a versão dublada em inglês. Re-encontrada há cerca de vinte anos, o filme original agora faz parte do acervo do Cinèmathéque Royale da Bélgica, onde os privilegiados poderão desfrutar de sessões privadas. O filme também pode ser visto por membros pagantes do Club Tintin, no site oficial do personagem, e uma versão em DVD foi lançada em maio de 2008 na Europa.
:: Curiosidades:
- Este trabalho é considerado o primeiro por duas razões: além de ter sido a primeira adaptação de um álbum de Tintim, foi também a primeira animação produzida na Bélgica.
- O filme alcançou um público de 2 mil pessoas em sua primeira exibição.
- As cenas da animação foram gravadas quadro-a-quadro. Foram necessárias 24 tomadas por segundo, para garantir o movimento e as expressões faciais dos bonecos.
- Assim como Hergé havia exigido, o filme respeitou fielmente o álbum homônimo, exceto pela exclusão do ataque sofrido por Tintim e o Capitão Haddock no deserto.
- Por falta de financiamento, algumas cenas não são animadas, como o cenário usado para ilustrar o porto de Bagghar, onde o Capitão encontra o Karaboudjan. Para aquelas cenas, os produtores copiaram trechos reais de documentários que mostram o porto de Antuérpia.
- Nem a crítica nem o próprio Hergé aprovaram a animação. Em uma carta ao produtor, o criador de Tintim citou o que o incomodava: os fios que conduziam os bonecos eram muito visíveis, os camelos no deserto não foram ágeis o suficiente e duas cenas foram muito longas.
- Graças à decepção causada pelo filme, Hergé recusou a proposta de um estúdio francês de levar Tintim novamente às telas, em forma de desenho animado.
- O artista acreditava que só nos Estados Unidos seriam capaz de traduzir o espírito de Tintim para o cinema, por isso, em 1948, Hergé propôs uma colaboração a Walt Disney. A parceria nunca aconteceu, mas Hergé recebeu uma homenagem exclusiva do estúdio do Mickey.
- A história do filme é quase fiel ao álbum, não fosse a omissão das cenas passadas no deserto, que inclusive dão capa ao álbum. Os animadores foram cuidadosos ao usar os quadrinhos como um storyboard para o filme, apenas ocasionalmente tendo liberdade com composições originais de Hergé.
- Uma cópia do filme está disponível para download aqui. Direitos autorais desconhecidos.
:: Mais imagens:
Capa do DVD lançado em 2008.
Programa do filme.
Primeiro cartaz do filme.
Uma cena do filme, onde Tintim contracena com os Dupondt.
Cartão reproduzindo a cena inicial do filme.
Com informações dos sites Tintinophile, Tintin est Vivant, Wikipedia e Tintin.com.
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